Artigo de Gisele Andrade, CFP®,planejadora financeira pessoal
Desde crianças somos incentivados a superar os obstáculos naturais da vida: aprendemos a nos alimentar, vencemos a força da gravidade ao começarmos a andar e, de repente, estamos nos comunicando através da fala… E quando temos um pouco mais de consciência, nos vemos sonhando com grandeza: viagens, aventuras, vencer grandes desafios! Alguns de nós quase chega a acreditar que tudo dará certo, aconteça o que acontecer, como nos filmes dos super-heróis (ou porque Deus é brasileiro!). Se por um lado ser otimista e determinado é muito importante para nos mover, por outro, a ausência de planejamento ou a falta de análise dos riscos, pode nos levar a situações muito difíceis. Como ouvi esses dias de uma amiga querida, um pouco de medo é necessário para preservar a vida e seu valor.
Mas não é sobre medos que vamos conversar aqui. A ideia foi trazer um pouco de reflexão sobre aqueles acontecimentos inesperados em nossas vidas que nos tiram do chão, trazendo consigo reflexos financeiros e patrimoniais relevantes. Terremotos financeiros: eventos repentinos, graves, que podem até durar pouco tempo, deixando, entretanto, estragos que demorarão a ser reparados. Dentre tantas situações potencialmente perturbadores, podemos citar como exemplo uma doença grave no provedor de uma família, a morte repentina, um incêndio que destrua parte do patrimônio, fraudes empresariais, divórcios malconduzidos. Se pararmos para pensar, um terremoto financeiro pode atingir com a mesma violência qualquer indivíduo ou família, independentemente da classe socioeconômica, causando estragos proporcionais.
O que se pode fazer para minimizar o potencial destruidor de uma ocorrência remota e não previsível? Faz parte do processo de planejamento financeiro a análise de ameaças ou riscos na nossa trajetória, mesmo que aparentemente esses aspectos não pareçam “financeiros” no início. Questões relacionadas à saúde das pessoas, por exemplo, precisam ser amparadas por seguros adequados. No caso de profissionais liberais ou de empresas de prestação de serviços, em que o fator humano é fundamental para a execução das atividades, é necessário prever desde indenizações para invalidez e morte até a formação de sucessores enquanto está tudo bem.
Abordando um pouco o patrimônio das pessoas e famílias, esse aspecto de risco também precisa ser analisado: providências simples como manutenção elétrica e hidráulica são tão relevantes como apólices de seguros. Você conhece alguém que perdeu tudo num incêndio residencial? E não estou me referindo a nenhum desastre em comunidade carente, mas acidentes que vi acontecerem em condomínios de elevado padrão onde seria “impensável uma desgraça dessas”. E então, pode ocorrer que o imóvel atingido por uma tragédia dessas ainda esteja financiado? como fazer?
E a perda do emprego? Se durante os tempos de calmaria aproveitou-se para ir constituindo uma reserva financeira, se essa reserva foi cuidada com diligência, será possível atravessar a crise com um pouco mais de tranquilidade. Entretanto, se o dinheiro ganho era integralmente consumido para a manutenção de um determinado padrão de vida, teremos problemas. Nesse momento, o exame minucioso de todas as contas da família e o sacrifício do que não for essencial são os primeiros passos para evitar o aprofundamento dos problemas. Uma vez que as decisões estratégicas de uma família afetam todos os membros, considera-se muito salutar o hábito de conversar abertamente sobre as possibilidades de consumo, investimento e também sobre as medidas de cautela.
Assim como as grandes empresas funcionam sob uma governança clara, com responsabilidades atribuídas e revisões periódicas (as reuniões ou assembleias), a família também precisa adquirir alguma maneira disciplinada de revisitar seus sonhos e sua estratégia. Como o espaço aqui serve mais para provocar do que necessariamente trazer uma receita milagrosa, pensei em uma situação que, para mim, reflete bem o nosso tema: se você for com sua equipe (ou família) num passeio para escalar uma montanha muito alta, tratará de preparar-se muito bem. Exercícios físicos, equipamento adequado, planejamento das etapas da subida, os acampamentos para aclimatação e checagem do progresso, os parceiros e guias em que vai ter que confiar. Chegando lá, ainda que no meio da escalada um acidente aconteça, toda a equipe estará atenta e agirá de forma sincronizada para diminuir os estragos e voltar em segurança. Com terremotos financeiros também é assim. Saber dos riscos e preparar-se para enfrentá-los poderá transformar sua vida para melhor, te fazendo crescer apesar das crises.
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